sexta-feira, 6 de março de 2009

Como encontrei Yemanjá

Como eu encontrei Yemanjá, vou te contar, nego. Vou te contar tudinho, é só você escutar com calma e carinho. Depois te faço dengo, como as ondas do mar a te acaraciar as pernas.
Foi assim no dia 02 de fevereiro, quando a lua estava quase cheia e o mar já estava cheio de oferendas recebidas e devolvidas. Quando a santa não se agrada, devolve os presentes com a correnteza. Eu tinha mal de amor e caminhava na areia para desanuviar pensamentos suicidas tipo , me enforcar no pé de coentro lá do quintal. Ligar para ele trezentas e noventa e nove vezes para ouvir que ele não me queria mais. Ligar só mentalmente, porque na real, eu não ligava mesmo, meu ego era tão grande como a lua que me lumiava. Os pés na areia fofa , meia molhada, meia seca. Combinavam com minhas lágrimas , abundantes que caiam nos meus seios, banhavam meu peito para apaziguar minha dor. Senti um cheiro de alfazema, perfume baratinho, mas danado de bom. Era um frasco que se abriu na areia, peguei um pouco nas mãos, esfreguei no rosto e nas lágrimas e Yemanjá saiu do mar e sorriu para mim. Pensei que estava sonhando, com aquela magnífica visão. Ela era mesma, mãe , doce , do mar , dos pescadores, do povo que tem coração. Ela pegou minhas lágrimas com as mãos e jogou para o mar. Secou meu rio de lágrimas e encheu o mar com ondas mais altas, que me fizeram ter medo e me sentir pequena diante do oceano e da sua magnifcência. Ela me falou de mistérios de Deus, de um Deus que não era nem orixá , nem católico. Era um Deus que não era castigo, nem pecado, nem temor. Era o Deus do oceano infinito, o Deus que multiplica os peixes e as belezas marinhas e alimenta as redes dos pescadores e nossos lares. Yemanjá , Odoyá, azul, Yemanjá. Salve, Rainha! Fez-me sorrir e rezar.


Por Marjorie Jolie

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