quarta-feira, 6 de maio de 2009

JÁ ESTAVA CRIANDO TEIA DE ARANHA


SEM TRANCA


SEM TRANCA


Meu coração não tem tranca,

vive sempre escancarado.

Quando chegas, tudo acontece.

Então eu perco o controle.

É tão forte, tão grande a emoção,

que fico assim, paralisado,

e te deixo escapar outra vez.

Meu coração revirado e doído

não tem força suficiente pra te prender.
Por Mario Rezende

quinta-feira, 23 de abril de 2009

DESEJO DE TI

DESEJO DE TI

Não sei, ainda,
se quero entender o por quê
de quando o desejo aflora,
não vê lugar nem hora.
Pior que se fica querendo
e querendo mais
que ele continue
e nem pense em ir embora,
jamais.


Por Mario Rezende

quinta-feira, 2 de abril de 2009

EU ME PERDI

EU ME PERDI

Rolou uma lágrima brilhante,
que brotou num instante
e foi tão sorrateira,
silenciosa e furtiva.
Só uma, solitária, derradeira,
atravessou depressa o meu semblante,
caiu e se perdeu
no travesseiro confidente.
Eu fiquei sem saber
que sentimento a impulsionou.
As emoções se confundiam
quando para ser teu, somente teu,
eu deixei de ser eu, somente eu.

Por Mario Rezende

domingo, 22 de março de 2009

IGATU

Igatu , cidade perdida na Chapada Diamantina, cidade como a dos maias, encantada. Para se chegar lá você tem que ter um convite, tem que pegar a rota do coração. Chegando em Andaraí, pode-se pegar a estrada com a bela paisagem da Chapada, os montes azuís ao longe, as flores e rios que colorem o caminho. A estradinha para chegar em Igatu é encantada também, tão estreita como se fosse uma via sem fim. Para se chegar ao local , onde os garimpeiros fizeram glória, tem que encontrar o portal, se não se faz tantas voltas e não se encontra a entrada da cidade.
Olha que Igatu está ali, mas não é qualquer um que pode chegar. É como se a única estrada que leva à cidade, fosse movediça, caso você não seja uma pessoa encantada, não vai poder entrar na cidade, daí se perde , incrivelmente na única estrada.
É tão delicioso chegar ali no alto e ver a cidade cheia de pedras, com um ar de colina. Ar de colinas encantadas. Porque ali parece que o tempo parou e que vai sair da janela uma figura mitológica, um Teseu, forte e viril. Uma senhora velhinha , bruxa , curadeira. Ou dentro de alguma gruta você vai descobrir o mistério do mundo. Ou até encontrar alguma ninfa ou deíade banhando-se na cachoeira.
Ainda tem um museu na cidade com uma vista belíssima , além de obras de arte esplendorosas junto com plantas que parecem do conto de Joãozinho e o Pé de Feijão, as flores e plantas na Chapada tem tanto vigor que são gigantes, vivazes, robustas, alegres e coloridas como o sol da manhã.
Igatu parece um sonho, saímos um pouco do plano da realidade quando nos sintonizamos com o silêncio local, podemos inventar vários personagens para desfilar nas festas religiosas da cidade, na Festa das Almas em que as pessoas desfilam com candeeiros nas mãos e lençóis bramcos no corpo.
E lá por aquelas paragens, Igatu é sublime com as pedras, onde a arquitetura desafia a natureza e dela ergue casas como de montanha , tão singelas e belas e tranquilas que respiram o orvalho da manhã.
Respiramos fundo e o ar entra azul. Ao sairmos de lá nos despedimos de um ilustre morador, o senhor JEGUE, ele tranquilo , a olhar o mundo de um só ângulo , tendo a cenourinha como meta, sem se desviar para os lados, tendo uma meta e com ardor a alcançando , apesar das intempéries da vida. Igatu vai se despedindo de nós ali devagar com suas poucas luzes acendendo, com suas mulheres sofridas carregando lenha na cabeça, mas sorrindo, sorrindo o sorriso mais lindo daquela gente encantada, simples e feliz.

Por Marjorie Jolie

quinta-feira, 19 de março de 2009

PENSAMENTO

O homem não existe porque pensa.
Por pensar assim,
acha que o que não pensa não precisa existir
e, se continuar pensando desse jeito,
logo pode deixar de ser.


Por Mario Rezende

sexta-feira, 13 de março de 2009

PENSAMENTO

Se você quer chegar primeiro,
prepare-se muito ou comece antes.

Por Mario Rezende

PENSAMENTO

Eu busco a felicidade, ela é o meu destino.

Por Mario Rezende

quinta-feira, 12 de março de 2009

MULHER DE QUARENTA

MULHER DE QUARENTA

Cerca de uma década depois da fase chamada balzaquiana, a mulherada está aí, em plena atividade, mostrando o seu interior macio numa explosão de sensualidade. Mas ao contrário do milho que só vira pipoca uma vez, a mulher inaugura a fase pós-balzaquiana cheia de experiência, porque ela teve a oportunidade de virar pipoca muitas vezes. Algumas caranguejeiras saíram de dentro do esconderijo, se depilaram e andam por aí, desfilando de new look, papando suas presas inexperientes, alimento saudável pra auto-estima e incentivo pra manter a fisionomia adequada neste mundo pelos free, pelos out.
As pererecas consagradas deixaram de ficar de molho no brejo e, rejuvenescidas, depois de uma overdose de auto-estima saíram por aí em busca de sapinhos, na esperança de encontrarem um príncipe encantado, travestido de companheiro ideal, em substituição aos seus velhos e rechonchudos sapos que tiveram que aturar por causa da falta de pulinhos necessários e vão empurrando a menopausa pra frente.
Por falar nisso, tem uma amiga minha, que está justamente nessa fase de dar uma guaribada, também com a finalidade maior do que trocar somente o visual, porque ela estava lá pensando na vida, depois de dar uns chutes nas bundas de uns e outros (alguns mereciam, antes, em outro lugar), até que de repente, “puff”, no seu brejo apareceu o príncipe. Não sei se era sapo, o fato é que ela segurou logo e foi pintando o bicho de Brad. Tomara que dê certo, estou torcendo por ela, apesar de que sou suspeito pra falar. Por causa disso, resolveu até botar anel e abandonar a solteirisse. Não sei se está dando saltos muito rápidos porque pintou aqui no meu brejo há pouco tempo, só sei que está em velocidade máxima, só para quando as paredes dos vasos ameaçam romper. Está correndo mais que o beep, beep, o papa-léguas. Dizem os entendidos (e os metidos a), que isso não é bom, vive mais quem não esquenta, como a tartaruga, pulsação quase parando. Também, não sei se toda essa correria é por causa da preparação pro corpo a corpo com Brad ou se é por conta do bread dela de cada dia que está cada vez mais duro de conquistar.
De qualquer forma, a esperança é a última que morre. Mas não considere tudo ao pé da letra, porque lá no meu jardim, a esperança (pobre insetinho), foi justamente a que morreu primeiro, sob a sola de uma sandália Havaianas (não a minha, claro, porque não costumo dar chineladas à toa em bichinhos inofensivos que vivem no jardim e outros grilos, muito menos matar a esperança de alguém); talvez, por acreditar nos ditos populares sem pesquisar a razão deles. Esse da esperança, por exemplo, é bem antiguinho, vem lá dá época dos deuses e tudo por causa de uma mulher (elas estão sempre na parada), tal de Pandora.
Algumas resistem mesmo, tenho que admitir, vivem paraplégicas, clinicamente mortas, mas não entregam os pontos, de jeito nenhum. Mesmo depois de fazerem a passagem, continuam como esperanças-fantasmas. Apesar de que tem hora que não dá pra segurar e tem que se soltar igual a panela de pressão, porque ninguém é de ferro, né? Encarar a situação de frente e ir à luta com seus próprios recursos naturais, porque tem coisas que quem está de fora não conhece, como hemorroidas, que ninguém vive dizendo que tem, apesar de que hoje, até isso está difícil de esconder, senão não se aproveita a vida. Aí eu tenho mais é que dar força pra ela. Vai fundo antes que o charco comece a secar, porque passa a ser dolorido e perde a graça, e o tesão também. Então, tem que aproveitar mesmo enquanto é prazeroso e gostoso demais...


Por Mario Rezende

domingo, 8 de março de 2009

O DIA INTERNACIONAL DA MULHER E A MIMOSA

Mimosa é uma flor amarela que simboliza o dia internacional das mulheres. Aparentemente frágil , a mimosa com suas florzinhas delicadas, tem a força de sobreviver às intempéries do tempo , à neve e florescer linda para alegrar tantas mulheres que são presenteadas no Dia das Mulheres na Europa.
Mimosa revive uma história da luta das operárias que morreram numa manifestação em prol de direitos numa época em que as mulheres não tinham nem voz nem voto. Muitas morreram para que hoje tivéssemos alguns direitos , para que fossemos mais fortes e delicadas, com garra e sensibilidade, lutando e amando, procriando, rezando, cuidando, florescendo como flores eternas na vida da humanidade. Somos mimosas, mas fortes.

Por Marjorie Jolie

sábado, 7 de março de 2009

TOUCH ME

A minha direita o KFC, “frango gostoso de verdade”,
um pouquinho mais nesse sentido,
estava cheio o Mac Donalds,
depois o Grande Muralha.
À esquerda eu nem sei,
porque meu olhar estacionou a minha frente
quando eu te percebi.
Não pude sustentar o teu
que com fome me comeu.
Um arrepio visitou o meu corpo e
disfarcei ,vencido, e desviei de ti os olhos
onde, mesmo assim, queriam ficar.
Quando decidido voltei,
já não te encontrei,
tinha desaparecido.
TOUCH ME dizia a camiseta
Da gordinha que ficou em seu lugar.


Por Mario Rezende

RESPEITÁVEL PÚBLICO!

O comboio estava quase chegando ao local onde o circo iria ficar. Logo depois de mais uma descida (eta lugarzinho pra ter sobe e desce nas estradas!). Do alto da carroceria ela o viu, estático e pensativo, parecia muito triste, sozinho num terreno baldio, logo no início de uma avenida movimentada e larga.
Ela fugiu do circo durante a madrugada, aproveitando-se da generosidade do domador que não gostava de prender os animais, principalmente aqueles que, como ela, não tinham muita facilidade de desaparecer ou causar dano à população. Ela estava com muita pena dele e tinha que ajudá-lo de qualquer maneira. Foi fácil derrubar a cerca que envolvia a área dos animais e logo estava seguindo, aproveitando a sombra das árvores enquanto a cidade estava quase toda adormecida, em direção ao local em que ela o tinha visto. Para ela não havia dificuldade, todo mundo sabe da capacidade dos elefantes em memorizar as coisas. Eles se lembram de tudo que aprendem, por isso mesmo são umas das principais atrações dos circos, nunca esquecem o que teem que fazer no momento certo. O cadeado que fechava o portão cedeu facilmente com uma leve pressão do seu imenso corpo. Ela sabia perfeitamente qual a função de portões e cadeados.
Ele estava na mesma posição em que o tinha visto, com o aspecto doentio, sofrendo, como ela logo constatou, pela ferida muito grande nas costas, com o couro rasgado, pobre coitado. Ela ficou muito penalizada ao ver uma criatura da sua mesma espécie naquela situação, abandonado pelos homens que fizeram uso dele, como faziam dela. Pensou que poderia ter o mesmo destino. Nem imaginava como seria a sua vida longe do circo. E se ficasse doente como aquele pobre animal? E resolveu ser solidária com ele. Durante dois dias ficou ali, dando o máximo de atenção a ele, alimentou-se das folhas e frutos que estavam ao seu alcance, de duas mangueiras que existiam no local. Ela estava sentindo muita sede, mas não sabia onde encontrar água. Sentia cheiro dela correndo próximo, mas não era cheiro de água limpa e estava amedrontada com o movimento de carros e do barulho infernal da cidade e resolveu ficar ali mesmo até que o pessoal do circo a encontrasse quem sabe eles poderiam ajudá-lo também. Se ela voltasse pro circo ele iria continuar ali sofrendo.
Segundo foi noticiado na imprensa local, um elefante fêmea de propriedade do circo que estava acampado na cidade, foi encontrada muito fraca, num terreno baldio dois dias após ter fugido. Estava deitada em baixo de uma mangueira, num terreno baldio ao lado das garagens do metrô, onde as escolas de samba deixam os restos de alegorias utilizadas no carnaval. Tinha lá, uma réplica perfeita de um elefante, se desfazendo com o tempo, que foi utilizada pela escola campeã do carnaval, jogada no lixo, depois de passar, deslumbrante pela avenida, para divertir os homens, assim como ela fazia no picadeiro. Escreveu o repórter.


Por Mario Rezende

sexta-feira, 6 de março de 2009

Como encontrei Yemanjá

Como eu encontrei Yemanjá, vou te contar, nego. Vou te contar tudinho, é só você escutar com calma e carinho. Depois te faço dengo, como as ondas do mar a te acaraciar as pernas.
Foi assim no dia 02 de fevereiro, quando a lua estava quase cheia e o mar já estava cheio de oferendas recebidas e devolvidas. Quando a santa não se agrada, devolve os presentes com a correnteza. Eu tinha mal de amor e caminhava na areia para desanuviar pensamentos suicidas tipo , me enforcar no pé de coentro lá do quintal. Ligar para ele trezentas e noventa e nove vezes para ouvir que ele não me queria mais. Ligar só mentalmente, porque na real, eu não ligava mesmo, meu ego era tão grande como a lua que me lumiava. Os pés na areia fofa , meia molhada, meia seca. Combinavam com minhas lágrimas , abundantes que caiam nos meus seios, banhavam meu peito para apaziguar minha dor. Senti um cheiro de alfazema, perfume baratinho, mas danado de bom. Era um frasco que se abriu na areia, peguei um pouco nas mãos, esfreguei no rosto e nas lágrimas e Yemanjá saiu do mar e sorriu para mim. Pensei que estava sonhando, com aquela magnífica visão. Ela era mesma, mãe , doce , do mar , dos pescadores, do povo que tem coração. Ela pegou minhas lágrimas com as mãos e jogou para o mar. Secou meu rio de lágrimas e encheu o mar com ondas mais altas, que me fizeram ter medo e me sentir pequena diante do oceano e da sua magnifcência. Ela me falou de mistérios de Deus, de um Deus que não era nem orixá , nem católico. Era um Deus que não era castigo, nem pecado, nem temor. Era o Deus do oceano infinito, o Deus que multiplica os peixes e as belezas marinhas e alimenta as redes dos pescadores e nossos lares. Yemanjá , Odoyá, azul, Yemanjá. Salve, Rainha! Fez-me sorrir e rezar.


Por Marjorie Jolie

MEDITAÇÃO

Hora do rush... sobem quatro picos em meu peito
Hora do arrocho... dez mil batimentos por segundo
Hora da crise.... cem mil dólares a menos na conta da minha esperança
Hora da tpm... milhares de células de cortisona
Hora da verdade... meditar e ser
Hora do silêncio... sem números, só reticências.


Por Marjorie Jolie

segunda-feira, 2 de março de 2009

PAIXÃO

Escrever para mim é paixão, só consigo escrever como um arroubo flamejante, tem que vir como um relâmpago que toca a minha cabeça no centro... tipo um transe, quanta pretensão. Mas hoje sem querer plagiar a deliciosa Elizabeth Gilbert ( não,não sou gay, ela é deliciosa de ser lida) quero relatar a minha grande paixão ou melhor as minhas grandes paixões.
Trinta e seis anos, perdida na vida, acabando um relacionamento tumultuado, pensando que não sofria por causa do término, afinal eu não o amava mesmo, mas caí num poço tão fundo sem lanternas, precisei de toda a criptonita do mundo e do além mundo para submergir daquele subterrâneo de Hades, subornei ele com uma boa dose de súplicas e choros no kit, mas sai, ainda machucada e com pânico, com medo de viver. Uma neurótica autêntica e solteira.
Pois é, me apaixonei outra vez, me apaixonei pela Itália. Penso que toda mulher com mais de 30 anos e algumas doses de desilusão no currículo deveria viajar para a Itália e de asa delta, voando livre. Porque a Itália é maravilhosa.
Estava em 2005 na minha terceira viagem internacional, uma amiga da minha amiga iria me receber no aeroporto em Roma, no avião não senti pânico, meu pânico é sazonal e safado. Adoro um avião, sinto que se morrer , vou ter uma morte magistral e morrerei instantaneamente então, só relax. O aeroporto em Madrid, Barajas, este me causou um tsunami em toda a minha alma. O aeroporto é uma cidade e os espanhóis de Madrid, não são digamos, gentis. São xenófobos e eu com minha tez mulata tupiniquim, solto aos olhos para eles. Eles não tem interesse em ser cordiais, muito pelo contrário. Quando você pede uma informação se esforçando no seu espanhol ensaiado no guia 7 dias, espanhol super express, o interlocutor responde com arraigado sotaque para procurar a polícia, porque não está ali para te dar informações. Eu que viajei me sentindo a própria Pocahontas, uma princesa brasileira ou coisa e tal, era confundida com venezuelana (ops ,s erá que eu pareço com a Shakira?) ou mexicana, deve ser porque adoro cores ou porque não tenho bumbum redondo e o rebolado da passista de escola de samba.
Mas eu sobrevivi ao Barajas, eu que não tenho uma bússola, nem um norte, sou a pessoa mais desorientada geograficamente do mundo, consegui pegar a escala para a Roma. Eu saí do inferno e fui ao paraíso. Roma é um paraíso. Para mim , eu adoro aqueles carros , aquelas vespas atravessando as longas avenidas, diante daqueles monumentos pomposos. Eu adoro ouvir o italiano nos meus ouvidos, adoro o tão trivial e quiçá hipócrita: "ciao bella", que quero ficar eternamente em Roma. Na sua temperatura quente , parecendo o Brasil, era setembro, quero mais um gelato delicioso, que escorre pela minha língua, dedos, e roupas e eu não estou nem aí. Estou em Roma!!!!! A amiga da minha amiga, muito simpática , me instalou no apartamento do professor orientador do seu doutorado em Perugia, o professor Vicenzo, que no início eu pronunciava como brasileira e depois aprendi a sonoridade deliciosa de transformar o c em tch e o nome saia tão gostoso como uma buona pasta com pomodoro e basílico, translate, como uma boa massa com tomate e manjericão. O apartamento era totalmente inusitado, parecia que eu tinha andado para trás no relógio do tempo, parecia que aquele imóvel tão cheio de história havia me tragado no túnel do tempo e eu tinha voltado a minha encarnação passada, o elevador feito gaiola, os móveis tão antigos, a cama que parecia da minha bisavó, o rádio retrô, o aquecedor estupendo que me fazia sentir quentinha como uma velhinha agasalhada tricotando no final da tarde. E a amiga da minha amiga, não era minha amiga, foi muito amiga em me receber e me informar, que infelizmente não poderia ficar comigo, eu ficaria sozinha em Roma.
Parecia que o bicho papão do pânico queria encostar, mas quando deitei naquela cama quietinha me senti tão em casa que ele foi passear em outro lugar, afinal Roma encanta até ele, tanto que deve ter saído apressado para passear enquanto eu dormia.
Acordei cedo para ir ao Colosseo, Coliseu, pegar metrô, eu sou da Bahia, pego busú, aqui ainda não chegou metrô , não, quiçá daqui a dez anos, mas me arvorei a pegar o metrô de Roma, olha que minha quase amiga me deixou os números do ônibus e guias com mapas que eu não sabia olhar, nem queria. Estava perdidamente apaixonada, mal podia respirar de tanto desejo. Desejo de desbravar aquela cidade que agora era toda minha e com a liberdade de uma criança em estado infantil agudo. Cheguei no Colisseo e aquelas falas em italiano no Metrô para indicar cada parada me deslumbravam de tão lindas. Santa Maria Novella, que lindo!!!! Parecia que eu estava na minha novela da globo. Na época tinha os cabelos muito longos e pretos, parecia até a Jade de uma novela global tipo marroquina, abri meus braços com as relíquias do Forum Romano atrás, abri meus braços para minha escolha de liberdade. Abri os braços para uma foto onde estava verdadeiramente feliz e o Colisseo tão enorme e esplendoroso me fez sentir imortal, forte como ele que atravessa séculos ali, impetuoso, não ligando para ninguém, só sendo. Andei, andei, porque em Roma você caminha muito, caminha , caminha, se bate em outros turistas de todo o mundo. Se bate em japoneses em grupos grandes com câmeras poderosas e com roupas de grife, se bate com branquelos que devem ser de lugares sem sol e que tem o direito de uma vez na vida sentirem nos seus rostos pálidos toda a alegria do sol de Roma fazendo-os corar como uma maravilhosa pizza bene mangiata, pizza bem comida. Foi a mudança crucial da minha vida. Comer em Roma, não foi comer perto do Vaticano onde eles fazem aquela comida para turista Pedro Bó. Foi atravessar para o bairro histórico dos operários ,atravessar a ponte para a Trastevere e comer uma bela bruschetta com tartuffo, e sentir orgasmo tão explosivo , passando a comer aquilo tão lentamente, para que não acabasse aquela felicidade nunca. E tomando um bichiere, uma taça de vinho da casa, tinto, rosso como se diz em italiano. Que paixão! Eu quando me apaixono sou obsessiva como toda maluca sem diazepan. Eu queria Roma o tempo todo, eu queria respirar Roma, eu queria resplandecer na estupenda piazza Venezia, queria tomar banho na Fontana de Trevi como a Rita Haywort, eu queria morrer e viver ali para sempre. Eu não estava sozinha, não, eu estava comigo mesma e feliz. Uma das poucas vezes que eu tinha uma companhia tão agradável, eu mesma, poderia tomar o gelatto , antes de comer e ninguém estava olhando, nem mesmo minha mãe,nem ex marido, podia tomar outro gelatto depois, rir sozinha de tanto prazer, porque gelatto deveria ser geamatto, ge amado. Em Roma fui confundida com indiana, com tailandesa, acho porque estava no meu estado zen fosforescente. E ainda não tinha descoberto o prosecco, minha paixão mais fiel. Mas me sentia explodindo como todas as bolinhas do espumante na taça e depois no céu da boca, delirante.Sou uma errante, naõ tenho carro de luxo, casa de luxo, mas tenho uma vida louca de luxo, e fui a Roma cinco vezes, sempre gozando muito no final, no meio e sempre. Ai, como te amo Roma, i love you forever.

Por Marjorie Jolie

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O SONHO DO JACARÉ

O SONHO DO JACARÉ

- Cadê Ela?
- Sei não, acho que chegou a fera.
- Como assim?
- Ela não apareceu até agora. É porque está naquele período. Ela só voltará quando ele for embora.
- Eu não acredito! Ela pode ficar assim tão indiferente? Afinal, ela é a maior amiga da gente!
- Amiga é? Tá me cheirando a dor de cotovelo... Disfarça! Disfarça! Lá vem ela! Lá ri lá lá... – limpando as unhas nas penas - Acho que vai chover...
- Não disse que ele tinha chegado? Eu tinha certeza!
- Eu sabia que alguma coisa tinha acontecido. Agora, vamos ter que esperar a maré de calmaria passar.
- É, quando ele for embora, volta ansiedade outra vez. Ataca a neurose, daí ela fica toda nervosinha e a gente faz a festa. É só esperar.
- Tem certeza disso? Você confia em quê? Tem gente pra tudo meu filho! Eu não confio em ninguém. Ainda mais em felino, ou felina...
- Que nada, você não viu a piscadela que ela deu pra mim?
- Ih! Sai pra lá jacaré! Se enxerga!
- Pura inveja tua! Do jeito que as coisas andam, se transformam ou evoluem na natureza, tudo pode acontecer. Você nunca ouviu falar em Darwin? Tá precisando se instruir, hein!
- Ah! Pesquei! Jacaré apaixonado, né? Onde já se viu isso? Se todos os seus sonhos se realizassem iria nascer um bicho meio esquisito. Onça com cara de jacaré. Ou seria um jacaré com cara de onça? Oncinha com rabo de jacarezinho, jacarezinho com rabinho de oncinha, cheio de manchinhas... É, para um coração apaixonado, quando a prática conflita com a teoria, muda-se a teoria...
- E daí? Sonhar não faz mal a ninguém! Tudo pode acontecer. Quem viver verá! A minha maior paixão são aqueles lábios carnudos, que bocão, meu Deus! É o que mais me atrai...
- Que lábios que nada, jacaré. Aquilo é beiço mesmo!
- Tu és muito despeitada isso sim! Só porque tem esse bico fino? Tá mais é com inveja!
- É melhor ouvir isso que ser surda. Bico que te presta. E muito, não é? Seu mal agradecido. Por que você não pede a ela pra vir pra cá te catar?
- Ela só não vem porque a natureza dela é outra, o nosso destino não é esse, senão...
- Então tá bom. Deixa o gatão dela ir embora lá pras outras paradas que eu quero ver se tu é macho mesmo pra resolver a tua encrenca.
- Ah! Deixe-me em paz! Continua limpando as minhas costas, seu passarinho pernudo e despeitado.
- Isso é que eu não vou ter nunca mesmo. Du-vi-de-o-dó! Não sou mamífero! Eu vou é embora. Não estou aqui pra aguentar desaforo de mal agradecido. Tchau!
- Vai, pode ir, passarinho ignorante. Eu não falei de peito, foi despeito. Quanta burrice! É por isso que apesar de ser um pássaro bonito e elegante, vai ficar sempre nessa vidinha. Nem aprendeu a cantar, só sabe grasnar. Não vê que quando a gente quer a gente consegue? Temos que ser perseverantes. A natureza sempre dá um jeitinho. – Pensou.
E mergulhou no fundo do rio pra refrescar as ideias.

Por Mario Rezende